OPINIÃO

Às mulheres paraibanas assassinadas por feminicídio no mês de dezembro (por Sofia Pimentel)

20 de dezembro de 2020 às 15h24 Por Wallison Bezerra
Arte da paraibana Yasmin Formiga (@yasmin.forminga)

Ontem fui pescada por um algoritmo na Netflix e assisti a uma série inteira: The Ripper. A série é sobre um serial killer na Inglaterra nos anos 60, que atacou 23 mulheres. Entre algumas falhas na narrativa e a necessidade de preenchimentos para os episódios, um ponto real da trama deve ser creditado.

A polícia falhou miseravelmente em encontrar este homem por tanto tempo, por causa de suas obsessões criadas sobre o perfil do assassino. Quando Pete começou a matar mulheres, ele foi chamado de “assassino de prostitutas”

Embora as mulheres que Pete assassinou vinham de todos os tipos de origens, mas se alguma fosse divorciada, solteira, separada ou mesmo apenas que uma trabalhadora, era automaticamente caracterizada como prostituta, mesmo se não o fosse.

Se a polícia não estivesse obcecada por um “assassino de prostitutas”, mas por um assassino de mulheres, sem fazer qualquer distinção, segregação, caracterização. O assassino teria sido pego antes, porque seria entendido que todas as mulheres estariam em perigo. E aquele clichê “e se fosse sua mãe, filha ou irmã” teria levado a mais empatia para o público, o mesmo que a princípio não se importou quando uma ou duas prostitutas foram assassinadas.

Elas estavam nas ruas afinal. E as ruas eram a única saída. Elas não tinham outra escolha senão a prostituição para alimentar seus filhos ou a si. E isso torna a vida dessas mulheres com menos valor do que a minha?

O assassino foi interrogado 9 vezes pela polícia como potencial suspeito, mas nunca o caso avançou pelo fato do mesmo ser casado, portanto um homem respeitável que não fazia sexo com prostitutas. Um absurdo. Foi um ponto de viragem quando ele finalmente matou alguém em uma alta escala da pirâmide social.

E foi finalmente entendido, que Pete era obcecado em matar mulheres, e não por outro motivo a não ser porque elas eram mulheres. E a vulnerabilidade de ser mulher naturalmente, facilitou que as matanças continuassem.

Eu lamento imenso. Essa série, mesmo que não tenha sido o propósito, me lembrou que a grande coragem começa pela simples existência de ser mulher. Séculos se passaram e nossa existência sempre foi vulnerável, e obviamente de algumas até mais do que outras.

Sempre foi urgente que existíssemos, com qualquer estilo de vida e qualquer escolha necessária para nos fazer querer estarmos vivas. Continuemos.

Refleti o acima exposto pensando em mulheres do meu estado (Paraíba), que tiveram suas vidas tiradas pelo feminicídio nos últimos dias de 2020.

*Sofia Pimentel é estudante de jornalismo paraibana

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