Há exato um ano escrevi a seguinte manchete no Portal MaisPB: Homem é internado com suspeita de coronavírus em João Pessoa. Tratava-se de um italiano que estava na cidade e tinha sintomas da ainda não tão comum Covid-19.
Alguns dias se passaram. Em 18 de março publicamos: Paraíba confirma 1º caso de coronavírus e investiga 80 suspeitas. Desta vez era um homem de 60 anos, morador da capital paraibana. Ele tinha acabado de voltar de viagem da Europa.
Daí então virou o que temíamos, uma rotina. Assistíamos com tristeza os colegas da imprensa estrangeira expor em reportagens o que parecia ser uma tragédia.
Apesar do senso – imbecil – comum achar que jornalistas sempre torcem pelo pior. Cansamos rápido. Em poucos meses de cobertura da pandemia chegamos à exaustão.
Bastava apenas um pouco de humanidade para reconhecer que estávamos em uma guerra e só com união conseguiríamos vencer.
As medidas de restrições vieram. Eram duras, incompreensíveis… porém necessárias.
Com elas também apareceu a real face de quem ignora o sentido da vida. Negacionistas, criminosos, bandidos.
Chegamos ao segundo semestre de 2020. Tudo parecia que iria voltar à normalidade, ou ao menos deveria começar.
Passamos a ter mais liberdade. Conseguíamos circular sem tantas imposições. Tudo andava bem. As máscaras combinavam até com o look do trabalho ou encontro com poucos amigos.
Eis que chegariam as eleições. Quer dizer, não chegaram. A pandemia fez com que o Congresso Nacional e a Justiça Eleitoral adiassem o esperado momento de escolhermos os nossos representantes.
Com um mês de atraso, era momento de irmos às urnas.
A teoria falava que tudo iria ser de acordo com as medidas sanitárias para evitar a propagação do vírus. A prática mostrou algo bem diferente, infelizmente. Dá angústia só de lembrar.
Lembram do momento que achávamos que tudo voltaria a ser como antes de fevereiro? Frustração.
Fim de ano é sinônimo de festa. Festa representa aglomeração. Aglomeração nos dias de hoje é o mesmo que desastre.
Confraternizações, Natal, Ano Novo….
Eis que brindávamos 2021. Às 23h59 de 31 de dezembro agradecíamos por ter sobrevivido ao temido 2020 e celebrávamos a chegada do ano que traria esperança.
Outro baque.
Estabelecimentos que hoje dizem ter seguido os protocolos sanitários optaram por arriscar no agitado verão paraibano. Era uma chance, talvez, de reaquecer a economia abalada.
Manaus voltou a viver dias caóticos. Vidas interrompidas por falta de oxigênio. Hora de ligar o alerta.
Eis que chega uma dose de esperança. A Anvisa aprovou o tão esperado uso emergencial de vacinas.
Não deu nem tempo de comemorar. O (des)Governo Federal escolheu não priorizar os imunizantes. Esse sim torce pelo quanto pior, melhor.
Segundo o UOL, os dados mais recentes mostram que só temos pouco mais de 6 milhões de brasileiros imunizados, o que representa apenas 3% da nossa gigantesca população.
E se você desejar ser vacinado, repito que dizia minha mãe, Dona Jane, quando eu queria algo rápido ainda quando criança: – melhor esperar sentado!
Sigo.
Carnaval chegou. Governadores e prefeitos cancelaram o feriado, redobraram as ações. Já era um sinal do que estava a caminho. E chegou.
Um levantamento do Portal MaisPB mostra que já temos mais de 50 mil infectados pelo coronavírus em menos de dois meses de 2021. É quase um quarto do total de contaminados desde o início da pandemia em território paraibano.
A Secretaria de Saúde de Estado, brilhantemente comandada pelos médicos Geraldo Medeiros e Daniel Beltrammi e a enfermeira Renata Nóbrega – pessoas merecem e muito o reconhecimento de toda população paraibana -, ascendeu o sinal de preocupação redobrada.
Fase vermelha. Momento crítico.
O governador João Azevêdo e o prefeito Cícero Lucena decidiram impor toque de recolher e reduzir a circulação de pessoas nas ruas, além da abertura de mais leitos de UTI.
Brasília, João Pessoa, São Paulo, Florianópolis, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e tantas outras capitais voltam a viver dias difíceis. São poucas vagas em hospitais.
E não adianta aquele discurso de que “basta apenas abrir mais leitos de UTI que podemos ter uma vida com mais flexibilização”.
Não. Quem diz isso deveria saber que estar em uma unidade de terapia intensiva não é garantia de vida eterna. É apenas um estágio para tentar evitar que um coração ou um pulmão deixem de parar antes do tempo.
E quem voltam? Os ‘revolucionários’ que não têm compromisso algum com a vida.
Fazem protestos. Reclamam dos governantes. Gritam.
Em determinados casos é até compreensível a insatisfação. Mas boa parte aproveita para fazer o discurso barato, ridículo e de modismo. O que não pode acontecer em um momento como o que passamos.
Ainda podemos adiar, caso seja esse o desejo, o sepultamento próprio, de um familiar ou de um amigo. Podemos fazer com que um tubo não seja colocado na garganta de quem amamos.
O que não podemos fazer é fracassar. Isso jamais.
Pelo bem de todos, não aglomere.
Não é discurso repetido. É atual e necessário.
Um ano se passou. Não é agora que deixaremos a vida, o nosso bem maior, colapsar.
Afinal, ninguém quer ser como o Lucas, né?