opinião

Um supremo vexame

8 de abril de 2021 às 10h43 Por Wallison Bezerra
Ministro André Mendonça. da AGU, defendeu a abertura de igrejas para fiéis durante a pandemia

O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início ao julgamento em plenário sobre a ação movida pelo PSD contra parte do decreto editado pelo governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que suspende a presença de fiéis em templos religiosos para conter o avanço da Covid-19.

O caso foi levado para análise de todos os ministros da Corte após a divergência de pensamentos entre Gilmar Mendes, relator do processo relativo a São Paulo, e Nunes Marques, que autorizou no fim de semana a reabertura de templos e igrejas em todo Brasil, atendendo a juristas evangélicos.

Quem assistia a sessão esperava no mínimo por argumentos jurídicos sobre o mérito do processo, balela. Parte das alegações ficou restrita a conceitos religiosos.

A vergonha maior ficou na fala do advogado-geral da União, André Mendonça. O auxiliar de Bolsonaro disse que “não há cristianismo sem o dia do Senhor”.

“É por isso que os verdadeiros cristãos não estão dispostos jamais a matar pela sua fé, mas estão sempre dispostos a morrer para garantir a liberdade de religião e culto. Que Deus nos abençoe e tenha piedade de nós, e eu começo por mim”

O advogado que representou o PTB, Luiz Gustavo Pereira Cunha, usou um versículo bíblico na tentativa de criticar possíveis decisões do Supremo.

“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

O presidente do STF, ministro Luiz Fux, refutou.

“Essa misericórdia divina é solicitada aos destinatários que se omitem diante dos males. O STF não se omitiu. Foi célere em demanda que se iniciou poucos dias atrás. Essa matéria nos impõe uma escolha trágica e temos responsabilidade. Nossa missão é lutar pela vida e esperança”.

O ministro Gilmar Mendes disse que Constituição não prevê um direito fundamental à morte e que STF deve estar atento a quem, sob vestes farisaicas, usa nome de Deus para sustentar esse direito à morte.

Ainda faltam dez votos para conclusão do julgamento. A previsão é que os demais magistrados sigam o entendimento de Gilmar, exceto Nunes Marques.

Independente do resultado, já há uma conclusão. O país está recheado de homens de Deus que precisam aprender um pouco mais do que é ser de Deus.

Usar o enredo do oba oba e jogar para galera o discurso raso só mostra que nós vivemos sempre em um supremo vexame.

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