A participação cada vez mais presente de policiais da ativa em manifestações políticas tem chamado atenção de autoridades públicas na Paraíba e no Brasil. Em São Paulo, o policial militar Aleksander Lacerda foi afastado por indisciplina. O agente, defensor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), usou as redes sociais para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
O Blog conversou com o presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das PM’s e comandante-geral da Polícia Militar na Paraíba, Euller Chaves, para entender como as corporações têm acompanhado a situação.
Confira a entrevista:
Blog – Como as polícias têm acompanhado esse momento de crise institucional no país, inclusive com a participação de agentes públicos de segurança defendendo fechamento de instituições, como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal?
Euller – Nossa visão é de pontualidade. Há episódios e atitudes impensadas por alguns militares que estão na ativa. Houve casos e sobretudo em São Paulo que envolve um comandante regional, uma pontualidade. A gente precisa ter em mente que as polícias militares no Brasil estão vinculadas as governadores, à lei, à ordem, à Constituição Federal. Então, o Conselho tem acompanhando junto aos senhores conselheiros, comandantes gerais, com a tônica de que não podemos permitir que os interesses individuais prevaleçam os interesses da coletividade. Que nós nos pautamos pela constituições do estado, pela Constituição Federal e estamos numa linha de subornação direta dos governadores.
“Enquanto instituição que estamos, nós iremos buscar e preservar a paz, o equilíbrio”.
Blog – Diante dessa conjuntura, dizendo que interesses individuais não poderão ser maiores que interesses da maioria, quando se há informações de bastidores de que militares poderiam se unir ao presidente Jair Bolsonaro para tentar o que chamam de golpe, o senhor como comandante vai admitir que isso aconteça?
Euller Chaves – Essa possibilidade é remota. Tem pessoas que têm simpatia por alguém que é político, foi militar e é presidente da República. As pessoas muitas vezes criam situações imaginárias como se um golpe fosse algo comum e simples de se fazer, é muito mais complexo. Temos a corresponsabilidade enquanto comandante, políticos, magistrados, membros do Ministério Público e sociedade em si de repudiar qualquer tipo de tentativa nessa ordem. Nós vivenciamos um estado democrático de direito e a democracia precisa ser preservada. Nós precisamos conviver com esse momento e passar da melhor maneira possível, focado na paz, democratização de um país de que vem de 1988 pra cá construindo isso. Nós temos uma democracia jovem que precisa ser cada dia mais sedimentada, esse sim é o sentimento da maior parte do povo brasileiro. Ninguém aceita qualquer tipo de golpe, seja de direita, esquerda, centro, centro-esquerda, centro-direita. Qualquer posição ideológica não cabe nesse instante que vivenciamos tentativas nesse sentido. O que importa agora é que as pessoas precisam de políticas públicas eficientes, precisam de saúde, precisam de educação, de segurança pública, habitação e emprego. E a gente precisa, enquanto cidadão e com responsabilidade pública, buscar melhorar a situação do nosso povo, que tanto precisa que nós despojamos as energias necessárias com ideias para melhorias do país.
“Não é pensando em golpe ou coisas que o valham que o país vai melhorar ou crescer. Ao contrário, qualquer tipo de violência política ou física eu admoesto enquanto cidadão e comandante da Polícia Militar da Paraíba”
Não há essa possibilidade [de golpe]. Se há pessoas que buscam esse caminho, nós precisamos juntos, enquanto sociedade, rechaçar esses pensamentos e tentativas de práticas que maculam a sociedade e o povo brasileiro.
Blog – Há manifestações programadas para o próximo dia 07 de setembro em todo Brasil, inclusive em João Pessoa no Busto de Tamandaré. Como a Polícia Militar tem acompanhando esse evento?
Euller Chaves – Nós temos notícias, e esperamos que haja solicitação oficial de algumas torcidas organizadas do contexto do cenário político nacional, de que haverá um evento no Busto de Tamandaré. Estaremos com o policiamento presente. A Polícia Militar da Paraíba e do Brasil tem um foco: paz social, manutenção da ordem pública, garantir os direitos da Constituição e buscar com que as manifestações aconteçam de forma ordeira.