As gravações que embasaram a 22ª denúncia do Ministério Público da Paraíba contra o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e mais 12 pessoas, obtidas pela Rede Mais, mostram que os integrantes da chamada organização criminosa tiveram dificuldades para manter em funcionamento o esquema que tinha o intuito de desviar recursos da Saúde estadual durante a gestão de Coutinho.
O entrave se chamava Roberta Abath, então secretária de Saúde da Paraíba. As queixas vinham do então governador, da ex-secretária Livânia Farias e de Daniel Gomes, operador da Cruz Vermelha que fazia questão de mandar em tudo que fosse relacionado à saúde paraibana.
O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) entendeu que todos os dados colhidos durante a investigação mostram que Abath não aceitava o que era ofertado pelos acusados.
“Roberta Abath era uma peça que não se encaixava no quebra-cabeça da ORCRIM que, desde 2011, implementava uma mecânica criminosa concatenada para desviar recursos públicos da saúde, posta em execução nos contratos de terceirização do Hospital de Trauma, mantido entre o Estado da Paraíba e a CVB/RS”
A médica foi auxiliar de Ricardo Coutinho entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016.
Diálogos mostram irritação com Roberta Abath
Uma das queixas da organização criminosa com Roberta Abath foi a assinatura de um contrato para produção e fornecimento de saneantes, fornecimento da farmácia básica das unidades hospitalares do Estado, fornecimento de medicamentos para atender as demandas judiciais do Estado e fornecimento de medicamentos para atender a demanda da saúde do sistema prisional das unidades de saúde do Estado.
O contrato estava estimado em mais de R$ 70 milhões e seria celebrado entre a Secretaria de Estado da Saúde e o Laboratório Industrial Farmacêutico da Paraíba. Para o Ministério Público, isso “seria móvel impreterível à execução do “Projeto LIFESA” pela ORCRIM”.
As escutas, porém, mostram que Abath foi resistente. Ouça o que disseram à época Daniel Gomes e Livânia Farias.
https://www.youtube.com/watch?v=DP7WoihATfc
Exoneração de Roberta Abath
A médica Roberta Abath foi exonerada em 03 de dezembro de 2016, abrindo espaço para que Cláudia Veras assumisse o posto. A articulação teria sido uma indicação da deputada Estela Bezerra (PSB).
Para o Gaeco, Cláudia Veras “era pessoa de indelével confiança da ORCRIM e que viria a, efetivamente, praticar atos de corrupção”.
Investigação contra Abath arquivada
Na denúncia apresentada ontem, o Ministério Público arquivou a investigação contra Abath. Apesar de entender que durante a gestão da médica os acusados não deixaram de manter em funcionamento o esquema de corrupção, eles prosseguiram com o desvio de recursos com a terceirização de serviços, o MP não encontrou dolo que apontassem o envolvimento da médica nas fraudes.