opinião

Carnaval em Campina: é proibido a Prefeitura proibir

16 de janeiro de 2024 às 10h09 Por Wallison Bezerra

A decisão do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União), em baixar um decreto para limitar os desfiles de carnaval durante a semana de momo é e precisa ser questionada. Por mais que seja para atender a um pedido do Ministério Público, a gestão necessita dialogar e governar para todo o público, e não apenas a um setor.

Proibir a presença de agremiações em diversos pontos da Rainha da Borborema, a exemplo do Açude Velho – local que geralmente recebe blocos -, parece não condizer com a cidade que se apresenta como Grande.

Ontem, a gestão Cunha Lima emitiu uma nota para justificar a decisão. Disse que atendeu a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público e outros órgão de segurança. No texto, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico fala que a medida é uma forma de zelar o Carnaval da Paz e evitar o choque com os demais eventos profanos.

“Os festejos carnavalescos se constituem numa das maiores manifestações culturais do País. Já o nosso Carnaval da Paz, um evento consolidado no calendário turístico da cidade há décadas, vem sendo ampliado a cada ano, por reunir múltiplas correntes religiosas e celebrar a cultura da paz. São duas realidades que coexistem em Campina Grande, no mesmo período, e cabe ao poder público, em suas várias instâncias, zelar para que não colidam e se consagre o interesse público de ambos os lados”, diz a PMCG.

A Prefeitura de Campina Grande, no entanto, precisa entender que por mais que seja grandioso, o Carnaval da Paz não é de todos. Pode até ser maioria para que os são de fora e buscam a cidade para os tradicionais retiros, mas não é unânime no município.

Imagina proibir eventuais atos de rock durante o São João? Seria conveniente? Claro que não. Se houver um pequeno grupo de dez pessoas que deseje pular atrás de uma orquestra ou trio elétrico no meio da rua, como acontece há anos, há esse direito e ele tem que ser respeitado.

O Poder Público não pode e não deve jamais sentenciar o fim de uma manifestação cultural. Não estamos na década de 60 para que isso aconteça. Priorizar um evento fechado e direcionado a um único setor – o cristão – em detrimento do geral, fere.

Setores da política e da cultura articulam recursos à Justiça para anular o decreto de Bruno Cunha Lima. Estará nas mãos do judiciário agora manter viva a fogueira que aquece Campina não apenas no São João.

Caetano Veloso brilhantemente nos ensinou que é proibido proibir.

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